quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

hasta siempre, comandante


- World Trade Center. Coming soon.

E o cinema todo comovido (pelas cenas do trailer que passou antes de começar o filme “Piratas do Caribe”, que assisti há algum tempo), enquanto um dos maiores massacres civis da história mundial simultaneamente acontecia, respaldado pela pobrezinha da potência do trailer. Ai que dó. E tinha gente que chorava.
Tudo mesmo de ponta cabeça. Tudo. As pessoas estão sem referenciais.
Ao mesmo tempo, ao redor do mundo, todos destroem Fidel Castro.
- DITADOR! Impõe, tortura e mata! Deixa seu povo sem condições dignas de vida! E a democracia do mundo, onde fica? – gritam aos montes, em todos os cantos.
Cada vez chego mais a conclusão de que fazer o caminho inverso é realmente muito mais trabalhoso que ceder ao convencional.
Não que Fidel seja um santo imaculado. Isso não mesmo. Acreditem vocês, também sentaria agora e listaria com facilidade inúmeras críticas. Mas já que é pra falar de tolhimento de liberdade, já que o argumento é sempre esse, ok. Que sejam ignoradas então, as fronteiras atribuídas a cada nação. Que o mundo seja visto em sua totalidade, sem divisões. Não existem mais países, apenas um mundo muito, muito grande.
DITADURA pra mim, é impor a esse mundo único e cheio de diferenças lindas, apenas uma verdade. É não permitir que exista uma segunda visão, uma outra opinião. É acabar inescrupulosamente com qualquer nação que cruze o caminho e interfira de alguma forma em planos de poder, matando homens, mulheres e crianças, destruindo pontes, hospitais, casas, escolas, desrespeitando as crenças e os modos de viver de cada sociedade.
E quando se chega à conclusão de que ninguém tem peito suficiente para ir contra, quem lembra?
Quem lembra daquele país pequenininho da América pobre, com um povo frágil e judiado, e um líder que, dentre seus inúmeros defeitos, foi contemplado com a mais saudosa das qualidades: a CORAGEM de dizer NÃO a quem se alimenta do sofrimento do outro. Parece ironia que aquele cara conhecido como um dos maiores ditadores da história contemporânea, tenha sido o único a se negar ao sistema ditatorial imposto ao planeta. O único que tentou, e tenta até hoje da maneira que pode, exercer em âmbito mundial uma DEMOCRACIA que, convenhamos, só existe na cabeça de quem é cego, e na condição de cego, não consegue conciliar os olhos da razão com os do coração.
Ao contrário do que se escuta por aí, o povo cubano não sofre por causa do “egoísta, sanguinário e sem coração do líder que tem”, mas sim, porque nesse mundo opiniões diferentes são vetadas, não podem sobreviver. Principalmente se colocam em risco o poderio de outrem. Você não tem o direito de achar que o correto é o caminho oposto. Caso acredite nisso de verdade, é automaticamente rejeitado. Fica ilhado.
Eleições evidentemente fraudadas e atitudes que desrespeitaram perante o mundo decisões da única organização criada para garantir a paz no planeta, a ONU; repressão covarde a nações pertencentes a cada um dos continentes do planeta, culturas inteiras exterminadas, muitas pessoas mortas, muitas CRIANÇAS mortas, cidades completamente destruídas... E isso por quê? Por cada vez mais poder, e por tudo que, direta ou indiretamente, faça alguma referência a ele.
São vítimas e mais vítimas. Histórias e mais histórias ELIMINADAS do mapa. Com bilhões de espectadores atentos e passivos a tudo.
Ninguém faz nada. Parece que todos permanecem numa sonolência inconsciente... zzzzzzz
E também ninguém quer despertar. Compreensível! Afinal de contas é muito mais cômodo e “seguro”. Toda vez que alguém desperta...
- Shhhhiiiiiiiiiuuuuuuuuuuuuuuuu!!!
É sempre massacrado por aqueles que preferem continuar dormindo.
Putz, acho que sou eu mesmo quem precisa rever os conceitos.

iHasta siempre, comandante!
E que cada vez mais pessoas acordem sem medo, como o senhor.

*Texto escrito há alguns bons anos

domingo, 17 de fevereiro de 2008

pra que esse nariz tão grande?


Ainda hoje percebo bonecos de madeira palpitando em minha vida.
- Só queremos ajudar! - é o q dizem, das mais diferentes maneiras.
O tempo todo, o tempo todo. Eles não desistem nunca. É impressionante.
Desde pequena, sempre foi assim. Sofro, sim. Muito. Mas não permito.
Eu luto.
Sou eu quem bate o martelo quando o que está em jogo é minha maneira de criar e acreditar.
Às vezes sinto medo... Às vezes acho que, enfim, me encurralaram.
Vários dos que antes estavam comigo, hoje são preenchidos pela mais nobre e maciça madeira.
Aí dá vontade de chorar. Bate uma fraqueza...
Mas continuo não deixando.


PINÓQUIO ÀS AVESSAS
Rubem Alves

Era uma vez um menininho, de carne e osso, igual a tantos que se deleitam nas coisas simples que a vida dá. Ria nos seus mundos de faz de conta, voava nas asas dos urubus, assustava os peixes, nariz achatado nos vidros dos aquários, assobiava para os perus, andava na chuva. Todas estas coisas que as crianças fazem e os adultos desejam fazer e não fazem, por vergonha. Sua vida escorria feliz por cima do desejo.

Não sabia que uma conspiração estava em andamento. Tudo começara bem antes, quando um nome lhe fora dado. Nome do pai. Claro, confissão de intenções: que o menino sem nome e sem desejos aceitasse como seus o nome e desejos de um outro que ele nem mesmo conhecia. Filho, extensão do pai, realização de desejos não realizados, sobrevivência do seu corpo, uma pitada de onipotência, uma gota de imortalidade.

"Que é que ele vai ser quando crescer? Médico? Diplomata? Cientista?"

E as conversas se prolongavam, temperadas com sorrisos e boas intenções, enquanto silenciosas se teciam as malhas do desejo em que pai e mãe esperavam colher/ acolher/ encolher o menino dos desejos simples...

Até que chegou o dia em que lhe foi dito: “É preciso ir para a escola. Todos os meninos vão. Para se transformarem em gente. Deixar as coisas de criança. Em cada criança brincante dorme um adulto produtivo. É preciso que o adulto produtivo devore a criança inútil.”

E assim aconteceu. Há certos golpes do destino contra os quais é inútil lutar.

O menino de carne e osso aprendeu coisas curiosas: nomes de heróis, frases que teriam dito, as alturas de montes onde nunca subiria, as funduras de mares onde nunca desceria, a distância de galáxias, o 'SE', partícula apassivadora, o "se", símbolo de indeterminação do sujeito, nomes de cidades de países longínquos, suas populações e riquezas, fórmulas e mais fórmulas...

Sabia que tudo aquilo deveria ter um motivo. Só que ele não entendia. O desejo permanecia selvagem. E disto eram prova aquelas notas vermelhas no boletim, testemunhas de como o menino cavalgava longe do desejo dos outros, conspiradores secretos, escondidos na monotonia dos currículos que não faziam o seu corpo sorrir...

"Pra que serve tudo isto?", ele perguntava. E o pai respondia, sábio e paciente: “Um dia você saberá. Por hora basta de saber que papai sabe o que é melhor para seu filho...”

O menino cresceu. E aconteceu que, em meio às suas rotinas, veio a se encontrar com dois cavalheiros bem vestidos e de fala branda, que se puseram a contar estórias de um mundo encantado sobre o qual ele nunca ouvira falar. Eles disseram de heróis em aventais brancos cavalgando microscópios e telescópios, brandindo máquinas fantásticas e aparelhos misteriosos, em meio a líquidos mágicos que faziam viver e morrer, encastelados em templos onde as coisas visíveis ficavam invisíveis e as coisas invisíveis ficavam visíveis, e lhe disseram de prodígios de verdade, e lhe perguntaram se ele não desejava se transformar num mago, num artista... A recompensa? O Poder, o conhecimento de segredos que ninguém conhece, a glória, ser olhado por todos como um ser diferente, sublime, superior. Se os seus prodígios fossem maiores que os de todos, ele poderia aparecer no palco supremo da ciência, em país distante, onde os mortais se revestem de imortalidade...

O menino grande se lembrou dos sonhos do menino pequeno. E sorriu. Finalmente, chegara o momento da sua realização. Estranhou que os narizes dos respeitáveis cavalheiros tivessem crescido enquanto falavam. Mas, logo o tranqüilizaram: “É só para te cheirar melhor, meu filho...”
Começaram as transformações. Primeiro os olhos. Já não refletiam outros olhares e nem borboletas...

Aprenderam a concentração, a disciplina. Depois o corpo, que desaprendeu a dança, o vôo dos papagaios e o brinquedo. Era necessário dedicar-se totalmente. Os pensamentos abandonaram as fantasias e os contos de fadas. Passaram a morar no mundo das fábulas e dos experimentos. Até o prazer da comida se satisfez com os sanduíches rápidos do almoço, e na cama o corpo se esqueceu do corpo...

E aprendeu coisas preciosas. Que o corpo do cientista é neutro. Que ele não se comove por considerações de valor ou prazer. Que está acima da vida e da morte (isto é coisa de políticos, militares e clérigos), em dedicação total ao saber. Bastava-lhe ser um devotado servidor do progresso da Ciência.
Mas tantos sacrifícios acabaram por receber merecida recompensa. A sorte soprou, favorável, e de seu corpo diferente surgiu uma nova magia, e o palco da imortalidade lhe foi aberto. Lá, perante todos, compreendeu que valera a pena. Duas lágrimas lhe rolaram pela face.

Já não era o menino de outrora, carne e osso, crescera. Estava diferente. Os aplausos de madeira enchiam a sala. Era a glória. E foi então que o milagre aconteceu. O recinto se encheu de suave luminosidade, e a Mosca Azul, que até então só habitava os seus sonhos, veio de longe e roçou o seu rosto com suas asas. E a grande transformação aconteceu. Era um boneco de madeira, inteligência pura, sem coração. E os milhares de bonecos, iguais, de pé, não paravam de tamanquear os seus aplausos ao novo irmão, enquanto gritavam o seu nome: ”Pinóquio, Pinóquio , Pinóquio...”

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

ai... pé na bunda...


Bom, apenas para completar o post abaixo, acabei de receber mais um daqueles e-mails sensacionais das assessorias de imprensa alucinadas por um lugarzinho ao sol nas concorridíssimas páginas jornalísticas que rondam o mundinho atual. (Pausa para respirar...rs) Páginas “SUPERRR sérias e idôneas”, vale ressaltar. Mas olha, estas mensagens costumam me proporcionar momentos de extrema alegria, admito. Com esta, não aconteceu diferente. O release atendia pela seguinte alcunha: “O Poder do Pé na Bunda!”

hahahahahahhahahahah... INCRÍVEL! Definitivamente, merece um post!

Seguem uns trechinhos do lazarento:

“Muitas pessoas passam por momentos ruins, que todos conhecem como: a 'hora crítica', o 'dia de facão' (???), ou, mais popularmente, o famoso 'pé na bunda'. Como reagir? Se os dinossauros não tivessem levado um pé na bunda da mãe natureza, o que seria hoje da civilização humana? E se não fosse o pé na bunda do Napoleão? (Pelamordedeus, do que será que eles estão falando???) Foram os erros os melhores precursores do sucesso. Jamais fique esperando o pé na bunda! Existem pessoas que, por insegurança, temem receber o cartão vermelho. Isso atrai o que você menos quer. Então, jamais tenha insegurança. Einstein recebeu seu pé na bunda na escola primária, porque a professora acreditava ser ele uma criança especial... (qüém, qüém, qüém, qüém...) Assuma o controle da sua vida, do contrário, será um infeliz constante, aguardando pelo momento da depressão. A depressão jamais será sua amiga, apenas concorrente. (Jeovááááá!!! O que será que eles querem dizer com isso???)"

Mas retomando o porquê do post e a relação com o texto anterior, por incrível que pareça, no meio de tantas trevas existia – sim! – um pequenino feixe de luz. Eis que uma frasezinha escondia uma informação interessante: “Foram os momentos de crise que causaram a evolução de toda a humanidade. Em chinês, CRISE significa oportunidade”.

Crise e oportunidade. Acho que no meio de tanta besteira, consegui encontrar um significado mais positivo para meu momento atual. O ”poder do pé na bunda” do release me mostrou o ângulo que denuncia o “quase cheio” do copo.

Taí! Gostei! O que de maneira nenhuma alivia a catástrofe prenunciada no release... afffffffffff

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

mais uma chance! mais uma chance!


Sim, sim, sim! Estou em crise! E qual o problema?
- Me conte! Me conte! Me conte! Me conte! (Ná, essa foi pra vc! hahahah)

Mas, não. Nã-não! Não é uma crise generalizada. É uma crise direcionada. Uma crise ocupacional, se assim puder especificá-la.

Eu sei que fui eu quem escolheu tudo. Teoricamente então, não poderia reclamar. Mas pôxa, acho que agora estou desescolhendo. (Será que existe este direito na constituição vigente? O da DESESCOLHA?). Sei também que nasci na era da uma chance. Que vivo na cidade da uma chance. Que convivo com pessoas que só me dão uma chance. Mas, por favor, sem querer pedir demais, será que tenho mais uma chance?

Então, algumas situações dão um click na cabeça da gente. Hoje entrei no blog Haja Saco e li o texto “Ah, coração...”. Aí me toquei porque tanto bode do jornalismo. Não gosto de textos com ventrículos e artérias. Gosto dos textos livres, dos soltos. Daqueles que batem descompassados e nem por isso correm o risco de uma morte súbita causada por uma parada cardíaca. Gosto dos verdes, não dos vermelhos. Gosto daqueles que respiram no próprio tempo. Daqueles que criam unidades particulares de tempo. E que ousam, contando seu período de vida a partir delas. Daqueles que contam experiências. E que mudam quando dá na telha. E que voltam atrás. E que desdizem sem vergonha. Sem prestar satisfações.

Em nome de tudo isso, venho por meio deste - não pedir! -, mas suplicar por mais uma chance. Uma chance de escolher de novo, um jeito novo de ser quem sou. Um jeito diferente de me descobrir, me encontrar no mundo. De vasculhar meu lugarzinho aqui, onde estou. De fazer diferença.


Nota: acabei de receber de uma amiga o link do site deste cara: Yeondooyung. Ele faz diferença. Ou faz diferente. Ele fotografa desenhos infantis. Não sei se muda diretamente alguma coisa no mundo. Mas com certeza muda nele. E agora mudou em mim.