terça-feira, 13 de maio de 2008

zeitgeist


Aí que ele assistia filmes que ela odiava.
Ele não lia, mesmo assim ela escrevia.
Ela estudava. Ele dormia e acordava.
Ele delirava, ela vivia.
Ela bebia. Ele inspirava – puxava forte.
Ela explicava, explicava... E cansava.
Ele brigava, depois chorava.
Ele se perdia, ela sempre o encontrava.
Ele amava, ela também.

- É fácil – continuou ele - É só não pensar – As palavras saíam de sua boca com serenidade que apunhalava, doçura que machucava. A feriu. E mesmo assim, sem conseguir parar de chorar, ela pediu, baixinho, numa humildade suplicantemente desesperada: “Então me ensina, por favor. Me ensina como você faz”.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

edaduas


Nem eu sabia que queria tanto
Não tinha noção da diferença desse medo, desse espanto

Hoje cheguei em casa meio sem jeito...

...E sem cheiro

Sem gosto
E sem rosto
Meio sem alegria
Ou simpatia
Sem cantos e acalantos
Sem mimos

Sem sal.

Sem cor ou malícia
Sem aquela delícia
Sem identidade
Sem vontade
Sem criatividade

Sem graça.

Até o dia ficou cinza
Sem sol
Sem brilho
Sem pleonasmos
Sem cerveja e sem papos

Sem chão
Sem direção
Sem sujeito e predicado
Sem contato

Sem você, aqui, encaixado confortavelmente ao meu lado