Como já é bem sabido, poucas décadas após a colonização da então "Ilha de Vera Cruz”, escravos começaram a ser trazidos da África para suprir a necessidade de mão de obra. Transportados em condições desumanas, ao chegarem, eram recortados do contexto do qual vieram. Aqui, seriam obrigados a trabalhar a troco de nada, em empreitadas que, para eles, não faziam sentido. Mercantilizados, eram separados de suas famílias e coibidos de tudo que os remetesse ao que realmente eram, à suas congenitudes. Vidas anuladas. E assim, o tempo ia passando. Maus tratos e muito trabalho, de sol a sol, dia após dia. Mas o fato é que, no fim, todos os esforços contra a dissipação da cultura africana acabavam não adiantando muito. Porque a senzala... Ahhh... Ela tinha ar e aroma singulares, que não permitiam que as raízes adoecessem: cheiro negro, cheiro África. Sofriam, sim, muito. Mas, ao fim de cada tarde, voltavam da lida e, nestes encontros, estabeleciam um ritual que misturava o culto a seus muitos deuses, aos causos, às danças, aos jogos, às cantorias, às comidas, à magia. Um rito cheio de saudade que, antes de qualquer coisa, representava o momento do reencontro com a pureza do que foram, um descanso que os reconectava com suas essências, com tudo aquilo que, na verdade, nunca haviam deixado de ser. A esta pausa – de tudo que os afastava de quem realmente eram – atribuiu-se o nome de banzo. E, inacreditavelmente, apenas por meio do banzo, o sofrimento partia...